quarta-feira, 23 de março de 2011

Os “gêmeos”: meus e de Paris


Meu marido e eu sempre pensamos em ter três filhos. Depois do nascimento do primeiro, decidimos que não esperaríamos muito para ter o segundo e quando nosso maior completou 1 ano e meio começamos a tentar. Sempre soube das minhas gravidezes bem no inicio e desta vez não foi diferente. Quando soube que estava grávida pela segunda vez, ficamos muito felizes, porem havia um grande incomodo rondando esta alegria. É que havíamos alugado uma casa aparentemente em bom estado enquanto estava com a mobilha dos proprietários. Quando os moradores saíram fui com o corretor até a casa para um levantamento das “pequenas” coisinhas que teríamos que arrumar antes de nos mudarmos. Resumindo, a casa estava um lixo! Milhares de coisas para mexer e dá-lhe dinheiro para investir em algo que não era nosso e que não seria reembolsado. Meu nervosismo foi tanto que a noite no nosso apartamento não conseguia parar de chorar e de pensar no “presente de grego” que havíamos adquirido.
  
No dia seguinte, eis a triste noticia, havia perdido o bebe espontaneamente; acho que foi por causa do nervoso enorme que passei. No hospital, quando me deram a noticia, não parava de chorar. O medico que se cuidou de mim, tentou me consolar mas para mim parte do meu mundo tinha desabado.
  
Bom, já diria a expressão “Deus escreve certo por linhas tortas”, e dois meses depois la estava eu grávida de novo! Como de habito, descobri bem no inicio, tão no começo que no primeiro ultra-som o medico não viu nada e suspeitou de uma gravidez tubária já que o exame de sangue acusava positivo.  Nesta situação, depois de uma semana, la estava eu de novo no laboratório e eis que aparece a bolinha! (ou seja, o pequenino bebe!). Devido ao aborto anterior, o medico marcou um outro exame para a semana seguinte e dessa vez meu marido me acompanhou. Nos instalamos na sala do ultra-som e logo no início o medico nos diz: ”bem....esta é a gravidez...”. Neste momento passou tudo por nossas cabeças, tudo de pior! E logo em seguida terminou a frase: “...vocês serão pais de dois bebes!”. Não acreditamos na hora e então ele nos mostrou as duas bolinhas; aquela primeira havia se dividido em duas e estávamos grávidos de gêmeos idênticos!
  
Apos processarmos a informação, passamos por momentos de alegrias, de medo, de pânico, de felicidade. Se é verdade ou não eu nunca saberei mas para mim, aquele bebe, que eu perdi dois meses antes desta gravidez, havia partido para buscar seu irmãozinho e só então, juntos , vieram para completar e abençoar nossa família. Isto tudo serviu para me mostrar mais uma vez que nada acontece por acaso e que tudo acontece na hora exata! 

Minha gravidez inteira foi impecável; nem um problema para mim e nem para as meninas, até a rebelião hormonal. Descobri que não ha nada tão forte como os hormônios; eles são impiedosos e quiseram tirar o atraso de tudo que me havia sido poupado. Ou seja, no final da gravidez, tinha apenas dois problemas: os psicológicos e o tamanho XXXGGGGGG da minha barriga. Surreal! Aqui em Paris, nem casaco masculino tamanho XXX era suficientemente grande para fechar. Tinha que andar na neve com o casaco fechado do pescoço até o peito e colocar camadas e mais camadas de cachecóis enrolados na minha barriga, a própria múmia, só que gorda!

Foi nessas caminhadas da vida que comecei a achar que existiam muitos gêmeos em Paris. Quando saia na rua, via uma quantidade enorme de mulheres empurrando carrinhos duplos. Dai comecei a refletir....uma gestação múltipla é relativamente rara. Vocês sabiam que as gestações múltiplas representam somente 15% de todas as gestações? (Alessandra também é cultura!). Fiquei boba quando vi isto na internet; acho que os parisienses e algo divino, entenderam errado e inverteram a estatística, ou todos os 15% estavam por aqui!

No final das contas, descobri que nenhuma das alternativas anteriores estavam corretas, na verdade são as babas, a maioria africanas e angolanas, todas produzidas e na pose, que se ocupam de mais de uma criança, não necessariamente da mesma família, e que saem para passear com elas faca chuva ou faca sol. Ou seja, a hora do rush dos carrinhos múltiplos é praticamente o dia todo!

As babas vão para as inúmeras pracinhas que existem aqui (qualquer jardinzinho tem brinquedos para as crianças e bancos para o bate-papo), se encontram, deixam a criançada brincar enquanto atualizam as fofocas.

É impressionante como as crianças se viram! Até os pequenininhos que ensaiam os primeiros passinhos ficam soltos, andando, ou melhor, caindo pelo chão! Vale a pena mencionar que o “chão”, ao redor dos brinquedos, é todo almofadado! Ainda bem!

Por falar em “ainda bem” e em pequenininhos, enfim, chegou o dia das minhas meninas nascerem. Não agüentava mais os hormônios me castigando; nem pesadelo eu tinha porque não conseguia dormir, valha-me Deus! Apesar dos pesares e do barrigão enorme, enorme também era a minha energia; até pintar algumas paredes do novo apartamento e montar armários eu fiz!

pluff.gifQuando fui para a maternidade, disse para meu filhinho que tinha chegado a horas dos bebes fazerem “pluff”; desde o início da gestação, coloquei-o a par de tudo que acontecia para que ele fosse aceitando aos poucos a gravidez e curtindo também.  A medida que minha barriga crescia, eu dizia que os bebes também cresciam e que quando eles não coubessem mais dentro dela, eles fariam “pluff”!


Bom, deu tudo certo no parto normal. Eu até curti literalmente pois quando me deram o sedativo, consegui relaxar o que não acontecia ha 4 meses e foi ai que dormi...no meio do trabalho de parto consegui dormir! Nesta hora entendi porque o Michael Jackson se drogava antes de ir para a cama! 

Me seguraram 7 dias na maternidade e eu não via a hora de ir para casa.  Eu dividia as enfermeiras em dois grupos: as do pro aleitamento e as da pro vida fácil (ou seja, mamadeira direto!). Mas como os maledetos hormônios continuavam a me azucrinar, minha carência era enorme! Estar rodeada por aquelas mulheres que pareciam estar contra mim era um parto a parte! Meu leite não descia e havia varias que me empurravam o vidrinho deleite frio e eu queria amamentar meus bebes. Em resumo, consegui amamentar e depois de sete dias sai daquele hospício!

Já em casa, com tudo relativamente organizado, entendi por que a formação de uma família deveria começar pelo segundo filho. Tudo é mais cool! É como andar de bicicleta, depois que se aprende, nunca mais se esquece! No caso de gêmeos, tudo é feito em dobro mas é incrível como nos adaptamos as situações; faz-se uma, duas, três, dez, cem vezes e você acaba nem percebendo o tempo passar.

No quesito “sair de casa”, enquanto na primeira gravidez eu esperei três meses para começar as baladas diurnas, com as meninas, antes do primeiro mês eu já ia de um lado a outro com meu super carrinho duplo, me juntando ao vai e vem de carrinhos gêmeos que existem em Paris.

Porem, diferente daquelas babas, eu estava nas ruas com os Meus bebes e apesar de não ter salário, de ter descido do salto e andar de sapatinho baixo (no maximo uma bota um pouco mais fashion) e de me vestir totalmente anti Gloria Kalil já que nada me servia (parecia que haviam esquecido um bebe dentro da minha barriga) eu estava feliz e orgulhosa da linda família que havíamos formado.

Um comentário:

  1. Oi Alessandra,

    Adorei a maneira humorística como vc descreve a maternidade. També sou mãe, mas de primeira viagem e escrevo semanalmente a amigos que de tanto me pedirem criei um blog com os assuntos mais diversos mas que descrevem meus sentimentos e emoções, além de ser um grande desabafo!
    http://etapasdamaternidade.blogspot.com/

    Abs
    Paula

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