quarta-feira, 27 de abril de 2011

As estações do ano em Paris

Paris é uma cidade lindíssima capaz de aguçar nossos cinco sentidos; as musicas, a culinária, os perfumes e a própria historia ao vivo e a cores. Cores sim porque apesar de seus grandes monumentos serem na maioria nas cores nude e camel (super tendência 2011!!), ela se anima com as cores das flores na primavera e no verão sem contar com as das vitrines, das grifes mais famosas e desejadas, que esbanjam uma palheta de cores para ninguém botar defeito!


As estações climáticas são bem definidas por aqui. Se ninguém disser em qual estação estamos, da para se notar ao andar pelas ruas. 


Na primavera tudo esta extremamente florido e colorido e as arvores são mais do que verdes, são perfeitas! Cada folhinha é novinha em folha, apesar de muitas serem centenárias; elas rejuvenescem a cada ano depois de um inverno que nos permite ver somente seus troncos e galhos, alem de neve quando as temperaturas despencam. 



No verão, com a alteração de horário, anoitece as 22h. Isso mesmo, as 10 horas da noite e não estou exagerando! Para aqueles que amam o dia, como eu, é incrível! Da para sair para jantar de dia e voltar quando começa a anoitecer (isso no meu caso de mãe amarrada ao tronco, ou melhor aos filhos!). E o calor...atualmente não fica atrás do Brasil não! O efeito estufa potencializou as temperaturas; para o inverno, ok, ha aquecedores por toda a parte, se bobear, ate dentro do vaso sanitário, mas para o verão, o ar condicionado ainda não se integrou a cultura francesa. É lógico que ha lugares refrigerados mas estes não são a maioria.  


Percebemos que o outono esta chegando quando as folhas e flores começam a cair das arvores...e não somente caem, despencam!; são pilhas e pilhas de folhas que vemos amontoadas em alguns pontos das calcadas, isso quando não vem o vento e espalha tudo de novo (coitados dos garis franceses!). O vento fica mais frio e os dias parecem menos alegres...mesmo assim, ainda bem que existe o outono....eu como uma tropical da gema nem poderia pensar em passar direto de um verão para um inverno frances; por aqui, acho que perderia o juízo; seria como dormir na praia e acordar dentro de Alcatraz! 


Bom...falando de inverno, nele os dias são bem curtos; por volta das 16h já começa a anoitecer (fala serio! Se ainda eu pudesse dormir três horas depois de anoitecer seria ótimo!) e o frio chega para valer.  Mas nem por isso as pessoas se privam de suas atividades; todo mundo leva a vida normalmente; ate as crianças (coitadinhas) continuam seus passeios diários com suas babas, só que disfarçadas....é muito engraçado ver as crianças no inverno porque elas parecem robozinhos dentro de seus macacões, com os rostos e as bochechas vermelhinhas aparentes; parecem mini bonecos da Michelin!

Aqui vai uma dica para as pessoas tropicais que vem para Paris no inverno e curtem passar uma boa impressão em termos de look; cuidado...aqui não é o Brasil onde colocamos um sobretudo lindo e ficamos com ele o dia todo dentro e fora dos ambientes. Como em Paris todos os lugares são bem aquecidos, você não terá outra opção alem da de tirar o seu lindo casaco, a menos que queira fazer uma sauninha básica sem eucalipto! E ai, se você for descuidada (o) e colocar aquela blusinha de 15 anos atrás, surrada, arejada com furinhos mas que você adora, vai passar uma vergonhinha básica e ai...glamour zero!

quinta-feira, 24 de março de 2011

O pão nosso de cada dia – de São Roque a Paris!

Não vou entrar em detalhes da historia do pão desde os primórdios tempos, quando o homem era nômade, caçador e pastor mas sim de minha historia ao lado desse nosso amigo massudo...quando eu era criança pequena la em São Roque.


 Minha família sempre sentou-se a mesa para fazer as refeições e no café da manha não era diferente. Meu pai saia cedo para trabalhar, então sentávamos a mesa minhas irmãs, minha mãe e eu. Tomávamos sempre lei com café acompanhado de um pãozinho ora frances ora de forma, com margarina, ou requeijão, ou ioiô crem (o avo da Nutella), ou Amendocrem.

Nete mesmo horario, meu avo passava em casa para me levar para a escolinha; eu tinha uns 5 anos. Saiamos a pé e caminhávamos pela marginal ate o parquinho do Jardim onde “estudava”. Vale a pena uma rápida explicação sobre o que chamamos de marginal para aqueles que não conhecem São Roque. Na verdade é um riozinho, praticamente um córrego, com duas pistas de cada lado...nada a ver com a marginal Pinheiros ou Tiete em São Paulo! 

Foi numa dessas idas a escolinha que sofri meu primeiro grande impacto relacionado ao pão. Um dia, atrasada, sai correndo para ir a escola com meu avo e neste dia fui comendo meu pãozinho pelo caminho. Na verdade não estava com fome e ao passar ao lado do riozinho da Marginal, joguei o pão na água. A medida que o pão caia eu já me arrependia.....como eu podia ter feito aquilo!! Aquele pãozinho que minha mãe tinha me preparado com tanto carinho eu tinha desprezado. Acreditem ou não, durante os anos que estudei neste parque, sempre que passávamos ao lado do fatídico lugar do pão, me dava um nó na garganta e as vezes eu chegava até a chorar. (fala serio! Era sensibilidade a flor da pele!)


Anos se passaram e a sensação de culpa também passou.  Já no primário, a cantina era o local mais esperado do dia. No inicio, as merendeiras passavam nas classes perguntando quem iria querer lanche. Eu odiava quando ela me olhava e falava: “e a Ozéééiiia vai querê?” (só para ficar claro, OZÉAS é o meu sobrenome!). Bom, a campainha do intervalo mal tocava e la estavam centenas de crianças enlouquecidas correndo em direção a cantina. Era pão pizza, enroladinho de salsicha e outras delicias. Nem sempre eu levava dinheiro, alias, na maioria das vezes levava lanche de casa nas famosas lancheiras. Me lembro como se fosse ontem, as garrafas térmicas mesmo depois de lavadas guardavam o cheiro do suco! E la estava, ao lado da bebida, o pãozinho nosso de cada dia com alguma coisa dentro.

E assim passaram-se anos....Ja na faculdade, os cachorros quentes dos tiozinhos da Paulista eram demais!! Ponto certo de parada: alem de bom era barato! E depois das baladas então...lembro-me que era imperdível o cachorro quente na Av. Estados Unidos. Todo mundo la...acabado, detonado e detonando o estomago!

Apos mais alguns aninhos (calma la....eu nao tenho 60 anos! Metade...ou melhor um pouco mais, ta bom...mais próxima dos 40 que dos 30, ok!)). Ha mais ou menos cinco anos atrás, depois de um acidentezinho de lancha, rompi o ligamento do joelho esquerdo tentando esquiar (glamour zero!). Na minha recuperação muita fisioterapia e caminhadas. Um belo dia, estava eu no bairro dos Jardins caminhando (apesar de la estar mais para uma escalada que caminhada) quando vi um Studio de Pilates. Na verdade, antes mesmo de virar modismo, eu era louca para praticar; lembro que na década de 90 tinha um único lugar perto da Av. Angélica que cobrava uma fortuna por uma horinha de Pilates, logo não deu para fazer, mas agora estava mais popular e conseqüentemente mais acessível. Não hesitei e me matriculei.

Passei três anos maravilhosos la; conseguia ir religiosamente duas vezes por semana e de quebra, pos os exercícios, eu aproveitava para fazer uma seção de drenagem linfática. Áureos tempos!!! Antes do trabalho, eu ia bem cedinho para o Pilates e drenagem e depois tinha a paradinha básica na padoca! Conhecia todos da padaria, o chapeiro, os garçons, o dono, o padeiro, as caixas; era demais! O pão com manteiga na chapa era sucesso absoluto! Ritual certo duas vezes na semana. Ah, esqueci que nos outros dias, já depois do nascimento do meu primeiro filho, eu o deixava no berçário e fazia minha pausa em uma outra padaria. La também todos me conheciam; era so eu entrar e tinha alguém perguntando: “o de sempre?” e é lógico que era o eterno e maravilhoso pão na chapa, com raras adaptações para um minas quente (queijo de minas derretido no pão frances sem miolo!)...Meus Deus...estou babando so de lembrar...e hoje ainda nem almocei, haja tortura! Apesar de toda essa comilança graças a Deus não me tornei a "dona roliça"! 

Bom,  o tempo passou mais um pouco e grandes mudanças vieram...voila Paris! Paraíso dos paes!! Alias, o pão por aqui é rei! Nunca falta a mesa em qualquer horário do dia e não importa acompanhando o que (ate massa!); é o nosso arroz com feijão. E os tipos então...a variação é enorme! Com o tempo aprendi que na maioria dos casos a massa é a mesma, o que muda é o formato e dai tanto nome diferente. Eu particularmente, como adoro a casca, compro sempre uma baguete porque tem menos miolo.  



E para não quebrar o legado, meu três pitocos são apaixonados por paes. O mais velho pede sempre por ele antes e depois das refeições e as pequenas, mesmo sem falar, ficam super excitadas quando avistam um!

Bom...se continuar assim, eles também poderão contar muitas historias sobre o nosso amiguinho farinhento!

“Queeemmm quer pão, quem quer pão, quem quer pão, que ta quentinho, ta quentinho, ta quentinho, pão gostosinho, gostosinho, gostosinho, quero mais um, mais hummm!!!”

quarta-feira, 23 de março de 2011

Os “gêmeos”: meus e de Paris


Meu marido e eu sempre pensamos em ter três filhos. Depois do nascimento do primeiro, decidimos que não esperaríamos muito para ter o segundo e quando nosso maior completou 1 ano e meio começamos a tentar. Sempre soube das minhas gravidezes bem no inicio e desta vez não foi diferente. Quando soube que estava grávida pela segunda vez, ficamos muito felizes, porem havia um grande incomodo rondando esta alegria. É que havíamos alugado uma casa aparentemente em bom estado enquanto estava com a mobilha dos proprietários. Quando os moradores saíram fui com o corretor até a casa para um levantamento das “pequenas” coisinhas que teríamos que arrumar antes de nos mudarmos. Resumindo, a casa estava um lixo! Milhares de coisas para mexer e dá-lhe dinheiro para investir em algo que não era nosso e que não seria reembolsado. Meu nervosismo foi tanto que a noite no nosso apartamento não conseguia parar de chorar e de pensar no “presente de grego” que havíamos adquirido.
  
No dia seguinte, eis a triste noticia, havia perdido o bebe espontaneamente; acho que foi por causa do nervoso enorme que passei. No hospital, quando me deram a noticia, não parava de chorar. O medico que se cuidou de mim, tentou me consolar mas para mim parte do meu mundo tinha desabado.
  
Bom, já diria a expressão “Deus escreve certo por linhas tortas”, e dois meses depois la estava eu grávida de novo! Como de habito, descobri bem no inicio, tão no começo que no primeiro ultra-som o medico não viu nada e suspeitou de uma gravidez tubária já que o exame de sangue acusava positivo.  Nesta situação, depois de uma semana, la estava eu de novo no laboratório e eis que aparece a bolinha! (ou seja, o pequenino bebe!). Devido ao aborto anterior, o medico marcou um outro exame para a semana seguinte e dessa vez meu marido me acompanhou. Nos instalamos na sala do ultra-som e logo no início o medico nos diz: ”bem....esta é a gravidez...”. Neste momento passou tudo por nossas cabeças, tudo de pior! E logo em seguida terminou a frase: “...vocês serão pais de dois bebes!”. Não acreditamos na hora e então ele nos mostrou as duas bolinhas; aquela primeira havia se dividido em duas e estávamos grávidos de gêmeos idênticos!
  
Apos processarmos a informação, passamos por momentos de alegrias, de medo, de pânico, de felicidade. Se é verdade ou não eu nunca saberei mas para mim, aquele bebe, que eu perdi dois meses antes desta gravidez, havia partido para buscar seu irmãozinho e só então, juntos , vieram para completar e abençoar nossa família. Isto tudo serviu para me mostrar mais uma vez que nada acontece por acaso e que tudo acontece na hora exata! 

Minha gravidez inteira foi impecável; nem um problema para mim e nem para as meninas, até a rebelião hormonal. Descobri que não ha nada tão forte como os hormônios; eles são impiedosos e quiseram tirar o atraso de tudo que me havia sido poupado. Ou seja, no final da gravidez, tinha apenas dois problemas: os psicológicos e o tamanho XXXGGGGGG da minha barriga. Surreal! Aqui em Paris, nem casaco masculino tamanho XXX era suficientemente grande para fechar. Tinha que andar na neve com o casaco fechado do pescoço até o peito e colocar camadas e mais camadas de cachecóis enrolados na minha barriga, a própria múmia, só que gorda!

Foi nessas caminhadas da vida que comecei a achar que existiam muitos gêmeos em Paris. Quando saia na rua, via uma quantidade enorme de mulheres empurrando carrinhos duplos. Dai comecei a refletir....uma gestação múltipla é relativamente rara. Vocês sabiam que as gestações múltiplas representam somente 15% de todas as gestações? (Alessandra também é cultura!). Fiquei boba quando vi isto na internet; acho que os parisienses e algo divino, entenderam errado e inverteram a estatística, ou todos os 15% estavam por aqui!

No final das contas, descobri que nenhuma das alternativas anteriores estavam corretas, na verdade são as babas, a maioria africanas e angolanas, todas produzidas e na pose, que se ocupam de mais de uma criança, não necessariamente da mesma família, e que saem para passear com elas faca chuva ou faca sol. Ou seja, a hora do rush dos carrinhos múltiplos é praticamente o dia todo!

As babas vão para as inúmeras pracinhas que existem aqui (qualquer jardinzinho tem brinquedos para as crianças e bancos para o bate-papo), se encontram, deixam a criançada brincar enquanto atualizam as fofocas.

É impressionante como as crianças se viram! Até os pequenininhos que ensaiam os primeiros passinhos ficam soltos, andando, ou melhor, caindo pelo chão! Vale a pena mencionar que o “chão”, ao redor dos brinquedos, é todo almofadado! Ainda bem!

Por falar em “ainda bem” e em pequenininhos, enfim, chegou o dia das minhas meninas nascerem. Não agüentava mais os hormônios me castigando; nem pesadelo eu tinha porque não conseguia dormir, valha-me Deus! Apesar dos pesares e do barrigão enorme, enorme também era a minha energia; até pintar algumas paredes do novo apartamento e montar armários eu fiz!

pluff.gifQuando fui para a maternidade, disse para meu filhinho que tinha chegado a horas dos bebes fazerem “pluff”; desde o início da gestação, coloquei-o a par de tudo que acontecia para que ele fosse aceitando aos poucos a gravidez e curtindo também.  A medida que minha barriga crescia, eu dizia que os bebes também cresciam e que quando eles não coubessem mais dentro dela, eles fariam “pluff”!


Bom, deu tudo certo no parto normal. Eu até curti literalmente pois quando me deram o sedativo, consegui relaxar o que não acontecia ha 4 meses e foi ai que dormi...no meio do trabalho de parto consegui dormir! Nesta hora entendi porque o Michael Jackson se drogava antes de ir para a cama! 

Me seguraram 7 dias na maternidade e eu não via a hora de ir para casa.  Eu dividia as enfermeiras em dois grupos: as do pro aleitamento e as da pro vida fácil (ou seja, mamadeira direto!). Mas como os maledetos hormônios continuavam a me azucrinar, minha carência era enorme! Estar rodeada por aquelas mulheres que pareciam estar contra mim era um parto a parte! Meu leite não descia e havia varias que me empurravam o vidrinho deleite frio e eu queria amamentar meus bebes. Em resumo, consegui amamentar e depois de sete dias sai daquele hospício!

Já em casa, com tudo relativamente organizado, entendi por que a formação de uma família deveria começar pelo segundo filho. Tudo é mais cool! É como andar de bicicleta, depois que se aprende, nunca mais se esquece! No caso de gêmeos, tudo é feito em dobro mas é incrível como nos adaptamos as situações; faz-se uma, duas, três, dez, cem vezes e você acaba nem percebendo o tempo passar.

No quesito “sair de casa”, enquanto na primeira gravidez eu esperei três meses para começar as baladas diurnas, com as meninas, antes do primeiro mês eu já ia de um lado a outro com meu super carrinho duplo, me juntando ao vai e vem de carrinhos gêmeos que existem em Paris.

Porem, diferente daquelas babas, eu estava nas ruas com os Meus bebes e apesar de não ter salário, de ter descido do salto e andar de sapatinho baixo (no maximo uma bota um pouco mais fashion) e de me vestir totalmente anti Gloria Kalil já que nada me servia (parecia que haviam esquecido um bebe dentro da minha barriga) eu estava feliz e orgulhosa da linda família que havíamos formado.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O nome do Blog


Esta curioso(a) do titulo? Na verdade o titulo do blog, Forresta Gumpa, é uma alusão humorada ao filme Forrest Gump, O Contador de Historias. Meus amigos(as) vivem me dizendo que sou um arquivo vivo, que me lembro de coisas do "arco da velha" e que sempre tenho algo inédito e improvável para contar já que Murphy é meu fiel companheiro...tudo acontece comigo!

Por falar em acontecimentos, vou começar pelos mais recentes deste que vim morar com minha família em Paris. Neste capitulo do blog, quero situá-los no meu momento de chegada aqui, no decorrer dos acontecimentos e nos fatos curiosos da cidade luz.

terça-feira, 15 de março de 2011

Paris Cidade Luz! Parte 1 - A Chegada e O Primeiro Impacto

Tudo começou no dia 21 de outubro de 2009. Eu chegava em Paris com minha mala de mão e minhas “bagagens”: duas  na barriga e um no colo. Vim primeiro com minha mãe para me fazer companhia enquanto meu marido se ocupava da organização da mudança no Brasil.
Era outono mas parecia inverno tamanho era o frio! Sabe o filme Jamaica abaixo de zero? Éramos nós na versão feminina mas sem o menor perfil para o esporte, alias, esporte naquele momento só se fosse boliche...e eu seria a bola, tamanha era a minha barriga, grande e pesada.



Fomos direto ao apartamento mobilhado que alugamos. O apartamento ficava num prédio de estilo tradicional da arquitetura francesa. Era arrumadinho mas diferente das fotos que vimos pelo site da empresa locadora (até  aqui Brutos!).



Me sentia como se estivesse em férias, com Paris me esperando para descobrir novos lugares e revisitar outros inesquecíveis! Em vários momentos, esquecia que estava grávida e fazia mil planos de passeios... O que consegui fazer? Bom... sair de casa era lei, chovesse ou nevasse, mas era para ir a milhares de compromissos....todos médicos por causa da gestação múltipla. Conhecia a maternidade Port Royale como a palma das minhas mãos! Pensem num Hospital Albert Einstein, ok? Era exatamente o oposto! Na verdade era considerada uma maternidade excelente em termos de infra estrutura para emergências e UTI neonatal, mas estava caindo aos pedaços literalmente! O prédio ao lado era lindo, mas ainda não estava pronto para a transferência da maternidade; tinha que me conformar de olhá-lo somente sem desfrutá-lo.



E assim, passaram-se as primeiras semanas, muita neve, hospital, mamãe e meu filho mais velho (estava com 2 anos e 3 meses!). Apos 20 dias, minha mãe volta para o Brasil e chega meu marido com nossa empregada que veio também nos ajudar. Foi então que as fichas começaram a cair.......



Percebi que havia bloqueado meses e meses de informação para não sofre antecipadamente no Brasil e foi ai que o mundo desabou....Resultado, 4 meses sem dormir, psicóloga toda semana, tudo regado literalmente a muito choro! E não era para mesmo! Foi uma mudança radical de vida e eu só dizia: “Quero minha vida de volta!” . Perdi as contas de quantas vezes disse isso! Meu marido realmente provou que me amava....me agüentar estava duro, nem eu mesma estava dando conta de mim! Neura total! 




Mas graças a Deus, como diria Nelson Ned (essa foi do fundo do baú!): “Mas tudo passa tudo passará. E nada fica nada ficará. Só se encontra a felicidade. Quando se entrega o coração”. E com as sabias palavras de Nelson Ned mais o Equilid e o apoio da minha mãe, irmãs e amigas(os), superei a depressão.



Foi-se a parte mais difícil, agora seria apenas cuidas das gêmeas e do Theo....Será que a parte mais difícil já foi???? rrrsss

Minha historia, minha vida: esta sou eu


Em 18 de outubro de 1974, nascia em São Roque, interior de São Paulo, em uma família de classe media baixa , eu, Alessandra, a primeira de quatro meninas todas nascidas em um período de cinco anos! Já deu para concluir que minha mãe foi uma guerreira e minha referencia não só hoje mas sempre! (se ela sobreviveu com quatro pequenas, eu também conseguiria com três!)

Passei minha infância e adolescência em São Roque. Mesmo com a vida um pouco complicada no setor financeiro, meus pais nunca nos deixaram faltar nada; com dificuldade e muita organização minha mãe conseguia fazer milagres com seu salário de professora.  Não tínhamos tudo que queríamos mas o necessário para vivermos felizes.

Fui uma criança sonhadora, ingênua e muito observadora! Estudei em um mesmo colégio durante 7 anos. Nunca fui popular, mas tinha meus contatos. Venerava uma de minhas colegas; ela era linda, conhecida e rica! Tudo aquilo que eu queria ser! Adorava quando me convidava para ir na casa dela....casa não....mansão! Para mim aquilo tudo era o que eu podia imaginar de mais lindo e luxuoso, o puro poder! Muitas vezes, ficava vendo ela e outras coleguinhas fazendo exercícios de ginástica olímpica, mas quem era eu para fazer algo tão difícil e perfeito. Se tentasse com certeza cairia de cabeça no chão! Murphy já estava comigo desde então.

Com o tempo, essa menina foi percebendo que eu era mesmo um peixe fora d’água , totalmente out da realidade dela. Então não me convidava mais para ir na casa dela, mas como podia eu ficar longe daquele sonho? Para mim, a Picola Sonhadora, eu fazia tudo para permanecer ao lado dela, até mesmo forjar uma situação....Olha a confissão!!! As vezes eu dizia para minha mãe que a menina tinha me convidado para brincar na casa e para ela eu chegava e dizia: “ Viu...minha mãe me deixou ir brincar com você na sua casa neste final de semana!”. A menina me olhava meio confusa e dizia: “Ok....” Bom, deu certo algumas vezes mas ela se ligou e o sonho acabou! (e minha cara de pau também! Detalhe...eu tinha 8 anos! Da para relevar, né ?).

 Ah! Esqueci me mencionar algo importante: eu também era uma criança conciliadora (e ainda nem existia o quadro do Max Gehringer no Fantastico!) e sensível. Não podia ver uma briga ou discussão entre crianças que eu entrava em ação; entrava no meio, tentava entender o que acontecia e não saia ate que ambas as partes fizessem as pazes. Ao mesmo tempo, chorava quando sabia que uma das minhas irmãs tinha tirado zero em uma prova ou que tinha ficado de castigo por ter se comportado mau....tadinha de mim...era uma Idiota e não sabia!

No quesito beleza, também não era uma referencia. Eu usava óculos e o cabelo repartido ao meio e atrás das orelhas. Literalmente a “Bete a Feia”! Para completar o quadro de horror, depois veio o aparelho nos dentes! Belezura!!! Minhas amigas tentavam me embelezar. Tinha uma que jogava meu cabelo de um lado para o outro. Me sentia o próprio espanador que no final ficava com um topete a la Elvis!!

Mas o tempo foi passando e eu aprendendo a sobreviver num mundo diferente daquilo que eu um dia tinha idealizado. Fiquei mais esperta (ainda bem!) e com mais jogo de cintura. Graças a Deus também deu para evoluir da “Bete a Feia”, mais antenada nas tendências e com o make certo, da para surtir algum efeito positivo!

Aos 19 anos, fui fazer faculdade e morar em São Paulo. Aquela cidade que quando criança tanto me impressionava e assustava por seu ritmo alucinante e prédios gigantescos, agora era o que tinha que chamar de casa. No inicio foi complicado, sentia muita falta da minha família e tive alguns momentos que pensei em desistir e voltar para São Roque mas minha mãe estava lá , para me dar forcas mesmo a distancia e me apoiar como sempre! Também não era fácil ser uma “caipirinha” solta na cidade grande (quase um Crocodilo Dundee). Penei um pouco ate me ajustar, mas como sempre corri atrás do que queria sem cruzar os braços e esperar as coisas acontecerem, dois meses depois de chegar em Sampa comecei a trabalhar em lojas de shoppings.

Assim começou minha vida profissional, tão importante para mim! Lembro-me bem, como se fosse ontem; quando entrava numa loja no shopping procurando emprego, muitas vezes era recebida com arrogância e indiferença pelas vendedoras. Elas faziam comentários entre si e riam de mim; isto me intimidava mas não me abatia. Depois de vários “entra e sai”, risos e rejeição entrei na ultima loja que tinha interesse em trabalhar e fui direto ao caixa perguntar pelo gerente; comecei a falar sem parar contando minha historia de estudante interiorana tentando crescer na capital e ele não disse nada....apenas ficou me olhando e ao final me deu um papel com o dia e a hora da entrevista. Foi demais!!! Este foi o passo inicial e depois disto não parei mais. Pulei de loja em loja, ate virar recepcionista de uma empresa onde, de tanto fuçar, aprendi a mexer no computador que para mim, ate então, não passava de uma TV com uma maquina de datilografia acoplada!

Depois desta empresa, consegui meu primeiro estagio em uma grande multinacional; fui efetivada depois de 2 anos. O mundo empresarial se abriu, eu entrei e não queria mais sair. De assistente passei para analista em outra empresa e para coordenadora em outra e assim cheguei a posição gerencial em um grupo internacionalmente atuante e conhecido.

E assim, 15 anos se passaram em São Paulo  e essa grande cidade se tornou minha casa de coração!  Não estava mais ali por obrigação e sim por amor. Em Sao Paulo me encontrei como pessoa, como executiva, como mulher.  Conquistei amigos maravilhosos e eternos. Meus sonhos se realizavam a medida que eu me sentia plena, segura, equilibrada; era o circulo vicioso do bem; energia positiva atrai energia positiva. Conheci meu marido na mesma empresa que trabalhava. Em cinco anos, namoramos, noivamos, casamos e tivemos nosso primeiro filho.  Apos quase dois anos, surpresa!....mais uma gravidez planejada...em termos.... Planejamos um e vieram dois bebes! Presente de Deus!

Até então tudo maravilhoso conforme planejado e conquistado com suor, dedicação e amor.
Em paralelo a surpresa da noticia das gêmeas, recebemos outra que eu sabia que mais cedo ou mais tarde chegaria. Meu marido, frances, seria transferido para trabalhar em Paris.
E assim começou nossa grande aventura que relatarei no próximo capitulo. Paris aqui vamos nós! E que seja o que Deus quiser!